O “Tarifaço de Trump” refere-se às tarifas sobre importações, impostas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, que começaram logo após sua posse em janeiro ado. Foram suspensas mas no dia 02 de abril foram novamente decretadas abrangendo produtos do mundo inteiro, sobretudo países asiáticos, China em primeiro lugar, com 34% de sobretaxa, e Europa, com 20%. Brasil e outra dezena de países, muitos da América Latina, foram menos onerados, com 10%.
A decisão de Trump pode ser considerada um Ato Histórico, pois rompe com a tradição liberal americana de livre comércio e sepulta o órgão multilateral, Organização Mundial do Comércio- OMC -, que vinha sustentando, como sucessora do GATT, criado no pós guerra, a política de abertura comercial no mundo. Algo similar já aconteceu no ado, logo da Crise de 29. Os Estados Unidos, na tentativa de contornar a recessão, também lançaram mão de similar “tarifaço”. Não funcionou. A recessão se aprofundou até que a eleição e posse do Presidente Roosevelt, em 1933, trouxesse novos ares à Política Econômica, com o abandono das teses liberais até então vigentes. Começava a Era Keynesiana que reconhecia a importância da intervenção do Estado como mecanismo de regulação da Economia, muito mais eficaz do que a mera gestão tarifária do comércio exterior. O Tarifaço daquela época, aliás, deflagrou uma década de franco protecionismo no mundo inteiro que acabaria isolando os países e levando-os à II Guerra Mundial. Impacto semelhante ao Tarifaço ocorreu, também, em 1973, quando a OPEP, cartel dos países exportadores de petróleo, elevou o preço do óleo de US 2,5 o barril, para perto de US$ 15, operando este processo como um verdadeiro imposto, também, unilateralmente imposto e com reflexos em toda a cadeia produtiva mundial. No Brasil abalou o regime militar e elegeu, no ano de 1974, 18 Senadores da Oposição (MDB), forçando o então Presidente, General Geisel, ao ‘Pacote de Abril”, de 1977. Fechou o Congresso e ou a nomear um dos três Senadores em cada Estado, os chamados “biônicos”.
O recurso protecionista, acionado na década de 1930, inspiraria, no entanto, no pós Guerra, os países do Terceiro Mundo que necessitavam de tarifas altas sobre produtos importados, em suas políticas de substituição de importações que animariam seu desenvolvimento industrial. Na época, Brasil foi pródigo neste recurso, seguindo o receiturário “desenvolvimentista” preconizado pela Comissão Econômica para América Latina – CEPAL-, órgão das Nações Unidas para o continente. Jamais se imaginaria, porém, que a maior potência econômica do mundo ocidental também viesse a se socorrer de tal expediente, sobretudo depois do comércio mundial haver se expandido e consolidado como poderoso instrumento do crescimento de várias nações, sempre em obediência às regras do livre comércio.
Trump, entretanto, foi intervencionista desde seu primeiro mandato – 2016/20 – e confiante no seu voluntarismo político, ao qual atribui capacidade de mover não só eleitores, mas a “máquina do mundo”. Tudo indica que fracassará pelo impacto inflacionário de suas medidas, colocando-o colocará na berlinda depois das próximas eleições de “Midterm, no ano que vem, nos EUA. De resto, já está promovendo uma comoção mundial. Uma corrida ao Salve-se quem Puder. Nem uma perdida ilha sem habitantes, no meio do Oceano, escapou de sua sanha…O Brasil, pouco gravado, comporta-se com cautela e tentará se defender não só através de recurso ao órgão multilateral de defesa do livre comércio, como através de negociações diretas com a Casa Branca. Afinal, é deficitário em suas relações comerciais em mercadorias com os americanos e, aliás superdeficitário se somados os déficits na balança de serviços. Por fim, mas não menos importante, em virtude de termos grandes investimentos dos Estados Unidos no Parque Industrial, na Bolsa de Valores e na volumosa Dívida Pública da União, esta superior a US $ 1 trilhão, somos um valioso contribuinte à riqueza dos Estados Unidos. Isso sem falar que temos mais de US $ 350 bilhões aplicados no Títulos de seu Tesouro…
Eis o retrospecto do Tarifaço:
“Em 1º de fevereiro de 2025, Trump anunciou tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, além de 10% sobre bens da China. No entanto, ele suspendeu temporariamente essas tarifas até 2 de abril de 2025. Neste dia, uma nova rodada de tarifas foi implementada, chamada de “Dia da Libertação”, com o objetivo de equilibrar a balança comercial dos EUA e proteger a indústria nacional. As tarifas têm gerado tensões globais e preocupações, especialmente em relação a países como o Brasil, que estão na mira das políticas tarifárias. “
Apesar da desorganização que o Tarifaço trará à Economia Global, trazendo no seu bojo um deslocamento cada vez maior do Atlântico para os Corredores da Seda na Asia, com tendência ao fortalecimento da China e, provavelmente, Índia, o Brasil poderá ter novas oportunidades no mercado mundial, tanto na exportação de grãos e carnes, como até mesmo em produtos industriais, os quais se destinam em maior parte para Estados Unidos, que isolados do mundo, poderão vir a comprar mais do Brasil.