PEPE MUJICA , no Uruguai, e VIRGÍNIA FONSECA , no Brasil, duas vidas, uma finda, outra em curso, ambas em relevo no noticiário de ontem e hoje. Virgínia, faroleira, isto é, influenciadora digital, apolítica, 26 anos, 53 milhões de seguidores, uma bela mulher, prestou depoimento no Senado sobre seus negócios milionários com casas de aposta. (Símbolo da modernidade líquida condenada ao esquecimento daqui a um século). Pepe Mujica, amante da Política, mas casado com a vida, ex guerrilheiro tupamaro, ex Presidente do Uruguai, nos deixa com a imagem de seu velho fusca azul para entrar na História. Não por acaso, os dois Podcasts mais lidos do Brasil, da Globo e do Grupo Folho/UOL, tratavam, nesta quarta (14), precisamente, destes dois progatonistas de seu tempo ( O Assunto g1 – O adeus a Pepe Mujica/ Café da manhã Podcast Folha Uol – Virginia na I e a relação de famosos com bets).
Mujica faleceu aos 89 anos de câncer, deixando como legado uma mensagem de resistência indignada mas com ternura. Mais do que nenhum outro líder da esquerda ele encarnou a máxima de Che Guevara de que “hay que ser duro pero sin perder la ternura”. Mujica foi duro na luta contra a ditadura no seu país, ou 13 anos na prisão, cerca de dez em solitária, impedido até de ir ao banheiro. À instâncias, levaram-lhe à cela um pinico, que ao ser libertado carregava consigo. Estava coberto de flores. Ele, aliás, viveu a vida inteira numa pequena chácara na periferia de Montevidéu e deixa como legado um chamamento à simplicidade e ao amor. Neste sentido, alia-se, na vida e na morte ao Papa Francisco. Disse que gostaria de ser enterrado na própria chácara ao lado dos cachorros de estimada. Sinal dos tempos?. Com a redemocratização de seu país, Mujica torna-se um defensor intransigente da democracia, não necessariamente a democracia parlamentar ocidental, mas a democracia como princípio da vida pública, criticando como ditaduras “los Hermanos” de Cuba e Venezueula: “Cosas de família”, justificava-se, carinhosamente. A morte de Mujica comove o mundo e toca o coração de muitos militantes de esquerda do continente.
“Mujica: Liderou pelo Exemplo e um lider Exemplar: Um dos líderes do grupo Tupamaros, no enfrentamento à ditadura militar, Mujica levou 6 tiros, foi preso 4 vezes, ficou 15 anos na prisão e fugiu Entre 1972/1985 ficou preso na condição de refém na ditadura. Presidente do Uruguai (2010/2015) governo pelo exemplo, conferindo valor ético e moral em sua liderança e fazendo dela um valor que inspirasse outras pessoas. Adotou a simplicidade, a frugalidade, o diálogo, a capacidade de escuta como conduta cotidiana. Não foi um presidente de palácios: viveu no sítio, onde criou galinhas e outros bichos e andou sempre com seu velho fusquinha. Os políticos deveriam se inspirar em Mujica e adotá-lo como exemplo de liderança. Tive a honra, em parceria com Mino Carta, de levá-lo na FESPSP”. (por Aldo Fornazieri)
